A História Por Trás da História

Seção Bate Papo:
A História Por Trás da História

Nesta página você irá encontrar informações sobre os bastidores de cada livro, com a participação de autores e ilustradores falando a respeito de suas inspirações e das peculiaridades e curiosidades de cada obra, contribuindo para um contato mais aprofundado entre os leitores e os criadores de nossas histórias.

A Menina Que Brigou Com o Pente

Por Wilson Pailo

Esta é a história de uma menina que, após sair do banho, não teve paciência de esperar a mamãe terminar de pentear os seus cabelos e, com pressa para brincar, foge para o quintal. Seu cabelo vai se transformando em uma grande maçaroca e isso faz com que ela acabe se envolvendo em uma série de engraçadas confusões. De um modo divertido e despretensioso, essa história fala de atitudes e consequências, tratando de aspectos como: ter paciência, obedecer a mamãe, respeitar as pessoas, pedir desculpas quando erramos, que tudo na vida serve de aprendizado e, obviamente, cuidados pessoais. Escrita em versos, contribui para o desenvolvimento da poesia e da musicalidade, além de enriquecer o vocabulário, introduzindo palavras como intrigado, gadelha e brado.

Essa história foi escrita em 2012 e teve sua primeira publicação impressa em 2014, durante o Festival da Cultura de Barra do Turvo, município do Vale do Ribeira, estado de São Paulo. Tudo começou em um belo dia, quando eu estava na casa de amigos. Havia uma moça chamada Gi que estava penteando os cabelos da filha, Luísa, que acabara de sair do banho. A menina tinha os cabelos longos e lisos, só que o cabelo havia ficado um tanto embaraçado após o banho. Enquanto a mãe a penteava, a menina reclamava dos puxões no cabelo. Eu estava sentado em um banco, na varanda da casa, quando a mãe da menina me perguntou: “— Wilson, você escreve histórias infantis, não? Ao responder que sim, a mãe continuou: “— Então por que você não escreve a história da “menina que brigou com o pente?” Essa frase ficou na minha cabeça por uns três meses. Um dia, resolvi escrevê-la e assim nasceu A Menina Que Brigou Com o Pente. No mesmo dia, fiz também as ilustrações, de maneira bastante simples, pois a ideia era dizer às crianças que elas também poderiam escrever histórias e ilustrá-las. A primeira vez que a li para crianças foi em 2013, quando trabalhei em uma das escolas da cidade de Barra do Turvo, como professor. Foi então que um dia contei a história para uma classe do sexto ano e, para minha surpresa, as crianças aplaudiram em pé de tanto que gostaram!

Em 2014, já trabalhando para a prefeitura da “Barra”, a então secretária de cultura teve a ideia de fazer o lançamento do livro durante a Festa da Cultura da cidade. O livro foi, assim, lançado durante o evento e foi algo muito bacana! A receptividade das pessoas foi algo muito, muito gratificante!

Na sequência, tive a ideia de fazer uma campanha para distribuição do livro para os 716 estudantes do sistema municipal de ensino. Fui atrás de patrocinadores que estivessem dispostos a colaborar. Cada livro sairia pelo preço de custo e, em contrapartida, o patrocinador receberia, para cada livro doado, uma cartinha de agradecimento escrita pela criança recebedora. Preparei uma lista com os nomes dos patrocinadores e de cada criança que receberia o livro. No lado interior da quarta-capa, foi colada uma etiqueta com o nome do patrocinador e da criança, de modo que, se alguém quisesse conferir se sua doação havia sido entregue, poderia verificar junto à escola. Infelizmente não consegui livros suficientes para as 716 crianças; foram apenas 190, mas aqueles que patrocinaram ficaram bastante emocionados quando receberam as cartinhas, e muitos disseram que “se soubessem que seria assim, teriam contribuído com mais!”.

Em 2021, foi lançada uma segunda edição, com ilustrações melhoradas e correções gramaticais que não haviam sido feitas na primeira versão. Também foi incluída uma atividade lúdica que ajuda a criança a interpretar as mensagens que estão inseridas na história, pois, mais importante que pentear os cabelos, é obedecer a mamãe, respeitar os outros, pedir desculpas quando erramos, e lembrarmos sempre de que tudo na vida serve de aprendizado.

O que tenho observado com esse livro é que muitas pessoas se identificam com ele: acho que é muito difícil encontrar alguém que nunca “brigou com o pente”, independentemente do tipo de cabelo. Teve uma senhora (que aparentava uns 65 anos) que disse: — Ah! Esse livro é para mim! E ela comprou o livro e pediu para que eu escrevesse uma dedicatória! Tenho tido notícias de muitas crianças que passaram a pentear os cabelos depois de terem lido o livro. É bastante gratificante saber disso, pois sempre que escrevo penso em, de alguma forma, passar algo bom para as pessoas, não apenas diversão, mas, principalmente, alguma boa mensagem. E gosto de escrever em rimas por causa da musicalidade e, mesmo, do desafio que é desenvolver uma história rimando. Admiro muito os repentistas, que criam suas rimas instantaneamente! Para mim, eles são gênios, assim como os escritores de cordel! Tiro o chapéu para eles! COMPRAR

O Menino Que Brigou Com o Chuveiro

Por Wilson Pailo

Essa história foi escrita em 2014 para complementar o livro anterior, A Menina Que Brigou Com o Pente. Queria escrever algo sobre meninos, porém, eu pensava que não querer tomar banho era coisa só deles, durante aquela fase entre os 8 aos 11, 12 anos. Mas, para minha surpresa, ouvi de muitos pais que isso também acontece com as meninas. Mas, a inspiração para essa história veio de vários acontecimentos e experiências próprias: eu mesmo, lembrando-me da vez que cheguei ficar 15 dias sem banho durante o gelado inverno de Curitiba lá pelos idos de 1975 (eu sei, podem ficar espantados, mas foi o ano em que nevou por lá! E, também, não foi por falta de minha mãe me mandar tomar banho!). O cabelo cheirava mal, com certeza, pois uma vez, brincando de lutar com outro menino, senti um cheiro forte no cabelo dele, igual ao de alguns bichos que tinha no zoológico da cidade. 

Lembro-me, também, de uma colega de escola que estava sempre arrumadinha, com o uniforme passadinho, o cabelo penteado, sapatinho de verniz, educadíssima e muito inteligente. Não era a menina de quem eu gostava, mas, certo dia, durante a saída da escola, vi quando seu pai veio de encontro a ela (lembro-me de que ele era empresário do ramo de mineração) e, quando lhe deu a mão, a menina falou algo para ele, como “é aquele menino ali”, olhando e sorrindo discretamente para mim. O homem me olhou e também sorriu. Só me lembro de pensar em o quanto eu estava sempre sujinho, por não tomar banho direito e estar com o uniforme sempre amassado e sujo de tanto brincar no recreio e que, apesar de tudo isso, pelo jeito, ela gostava de mim. Continuei gostando da outra, mas isso serviu de alerta para me cuidar melhor!

Outro fato que contribuiu como inspiração ocorreu 45 anos mais tarde quando, depois de eu sair do banho, cheguei para minha esposa e disse: — Vê se eu tô cheirosinho? Ela achou isso muito engraçado, respondendo-me com um belo e carinhoso sorriso! 

Assim, somando esse fato aos quinze dias sem banho e à menina arrumadinha que eu acho que gostava de mim, misturei tudo para escrever O Menino Que Brigou Com o Chuveiro. Acrescentei um pouco de drama (que dizem ser coisa de homem) e o fato de, em nossa sociedade, muitas pessoas prestarem atenção mais nas aparências que na essência (até que alguém vem trazer uma luz e muda nossa forma de pensar!). 

A ideia fundamental foi fazer uma história divertida, escrita em versos, que falasse não apenas da importância do banho, mas, principalmente, do respeito, da valorização da essência e da necessidade de estarmos sempre abertos a mudanças e ao aprendizado. COMPRAR

My Heart

Por Wilson Pailo

IM 01

Minha vida é cheia de acontecimentos bizarros, histórias de coisas estranhas que aconteceram comigo. Um dia, lá pelos idos de 2010, me perguntaram por que eu não escrevia uma história para crianças, já que eu contava tantas histórias absurdas e, mesmo, engraçadas? Fiquei em essa ideia na cabeça, mas sem saber sobre o que escrever. A inspiração veio um dia, quando eu estava visitando uma livraria (na época eu ainda morava na Califórnia, EUA). Eu estava passando por uma fase bastante difícil em minha vida, procurando emprego, cuidando sozinho de meus dois filhos… Eu havia acabado de sair de uma entrevista para uma vaga de professor de mecanização agrícola no College de Merced e a entrevista havia sido um desastre! Antes de ir para casa, parei nessa livraria para dar um tempo e esfriar a cabeça. Uma coisa que eu acho bacana nos EUA é que lá tem livros para tudo o que se possa imaginar (e para coisas que a gente nunca imaginaria que alguém escreveria um livro, também!). Entrei na loja e fui à seção de revistas. Dentre as várias que havia, peguei uma que falava de “Self Publishing” (traduzindo, seria algo como “publique você mesmo”). Como eu nunca havia ouvido falar nisso, comecei a ler a revista. Foi aí que, lá pelas tantas, parei um pouco de ler e comecei a olhar aquela livraria, com tantas seções sobre tantos assuntos diferentes, tanto conhecimento produzido! Pensei que tudo era um mar de informação e que a gente acaba se perdendo de vontade de ler tudo aquilo. Pensei, também, que se eu fosse dar um conselho para uma criança sobre como “navegar” nesse mar de informação, que conselho eu daria? Foi aí que eu comecei a imaginar um menino, entre 8 e 9 anos, em uma biblioteca, tendo acesso a toda essa informação… E assim foi surgindo a história. Então, My Heart foi escrito em 2010, primeiramente em português e, posteriormente, reescrito em inglês. Digo reescrito por que não se pode traduzir um poema com rimas ao pé-da-letra. Ao escrever a versão em inglês, o sentido da história ficou o mesmo, mas existem algumas diferenças. A questão é que, na época, a versão em inglês acabou ficando melhor, mais concisa.  Foi a minha primeira história para “crianças”. Digo “crianças”, entre aspas, por que é uma história que serve para adultos também. Costumo dizer que é uma história pra crianças de 5 a 105 anos de idade! Um fato interessante é que, enquanto eu escrevia, em minha mente eu ouvia o 3º movimento do concerto “Inverno”, de Vivaldi. Por isso, considero essa música como sendo “a chave tonal do livro”.

O próximo passo foi ilustrar: fui atrás de ilustradores, mas isso ficava muito caro. Ao comentar a questão com amigos, me sugeriram que eu mesmo fizesse as ilustrações, e que desenhasse de um modo simples. Resolvi aceitar o desafio. Fui na internet procurar tutoriais de como ilustrar um livro. Peguei indicações de tipo de papel, tintas, diferentes técnicas… Comprei o papel indicado e um tipo de lápis de cor que depois você passa água e ele dissolve a tinta. Fiz as ilustrações e, em seguida, com um scanner, digitalizei-as.

O resultado foi outro desastre! Para amenizar as coisas, tive que retocar cada ilustração usando o mouse do computador! Melhorou um pouco, mas, mesmo assim, ficaram feias. Teve gente que gostou, mas eu não. Mas, publiquei o livro assim mesmo, pela Imgram, que trabalha com impressão por demanda. O livro ficou disponível por um tempo, cheguei a vender alguns exemplares, mas, depois, acabei retirando de circulação. Comprei, então, uma mesa digitalizadora e refiz todas as ilustrações. Aí ficaram bem melhores. Já de volta ao Brasil, uma editora americana “se ofereceu” para publicar o livro. Digo “se ofereceu” por que isso iria custar U$ 6.400,00. Até me pareceu que não estava caro na época, mas as circunstâncias me impediram de ir em frente. Com a disparada do dólar e a economia brasileira entrando em crise, a publicação da segunda edição teve que ser adiada. Por vários anos busquei alternativas pra publicar o livro, mas sempre esbarrava no custo para impressão. Fazia alguns anos que eu vinha estudando o mercado digital e as suas possibilidades, até que encontrei uma forma viável de publicação e distribuição do livro digital via Amazon KDP. Resolvi utilizar essa mídia e, enfim, tirar o My Heart da gaveta e disponibilizá-lo ao público. O livro possui uma mensagem principal e várias outras mensagens, que são repassadas através do texto em si e pelas ilustrações. Tem, também, algumas curiosidades e segredos. Por isso, achei por bem inserir detalhes sobre essas mensagens e curiosidades em um anexo, como se fosse um “guia turístico” do livro. A ideia foi fazer algo parecido a uma visita a um lugar histórico: você pode entrar sozinho nesse lugar, olhar tudo e sair; mas, se contratar um guia turístico, ele lhe mostrará e explicará curiosidades a respeito de cada detalhe do local, coisas que não se pode saber simplesmente olhando, tornando, assim, sua visita muito mais rica e proveitosa. Deste modo, o leitor pode matar a curiosidade a respeito, por exemplo, do por que os reis estão montados em cavalos de pau e usando espadas de madeira? Por que o livro tem a capa vermelha? E assim por diante. COMPRAR

O Elefante Maluco

Por Wilson Pailo

O Elefante Maluco - Desmembrado

Esta história foi escrita em 2017, num domingo de manhã. Eu ainda estava na cama, mas acordei e ouvi, lá do oitavo andar, um papagaio que provavelmente havia fugido de alguma casa. Ouvia, também, a voz de alguém que provavelmente estava tentando pegar o papagaio (digo provavelmente por que não fui à janela para ver o que realmente estava acontecendo). Aquela “conversa” durou um bom tempo, misturando sono, sons e vozes. Lá pelas 11h00 da manhã, quando me levantei, veio-me a inspiração para escrever essa história. O que tem a ver papagaio fujão com um elefante maluco eu não sei, mas só sei que foi a partir daquela mistura de sons que veio a ideia e, a medida que fui escrevendo, a continuação da história foi surgindo. 

A ilustração de como seria o elefante veio em seguida, sendo que o sorriso e o olhar meio sinistros foram inspirados em uma pessoa conhecida. Desenhei o elefante em um pedaço de papel que, posteriormente, foi digitalizado e colorido. Procurei utilizar o princípio de Curvas Harmônicas para desenhar o elefante, para dar um fundamento geométrico e, ao mesmo tempo, gracioso no bichinho. 

O Elefante Maluco

Antes de lançar o livro digital, fiz uma animação, um filme com pouco menos de três minutos de duração, e que foi exibido na 17a Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis, 2018 (ver o filme, clique aqui).

O Elefante Maluco é um elefantinho muito doido mesmo, um pouco medonho em seu olhar e sorriso, mas que desperta muitas sensações e reações no menino da história: medo; curiosidade; estranheza; preocupação; zanga; diversão, etc. E, no final, faz a gente pensar que essas são algumas das sensações que os sonhos despertam na gente. Dizem que quando dormimos, nossa consciência vai para o “plano das emoções”, onde os sonhos estão, e, enquanto nosso corpo físico descansa, a gente tem uma “vida” bastante ativa por lá. Alguns dizem ser possível aprender a controlar nossa consciência durante o sono e, assim, aproveitar melhor essas “atividades”, inclusive fazendo trabalhos úteis, viajando, estudando. Não sei como fazer isso e, por hora, penso que o melhor é continuar procurando ter bons pensamentos e atitudes durante o dia para que, de noite, a gente tenha bons sonhos, não é? COMPRAR

Vamos Desenhar o João?

Por Wilson Pailo

Joao

Essa história surgiu acho que era uma quinta-feira: eu acordei de manhã e ainda estava deitado quando me veio a frase “Vamos desenhar o João?”, juntamente com os primeiros versos. Rapidamente levantei-me e me pus a escrever. Terminado o texto, em um papel fiz um desenho com uma caneta, do que eu pensei que seria um desenho com traços infantis, com corpinho de pauzinho e pés e mãos de bolinhas, com os dedos de risquinhos… No primeiro esboço já saiu o João! Achei que ficou um bonequinho simpático. Naquela manhã mesmo fui ao computador, digitalizei o esboço e ilustrei a história. Este foi o livro mais rápido de todos! Em poucas horas estava pronto! 

Scan

A meu ver, essa história serve para muitas coisas: primeiro, para ajudar as crianças pequenas a desenhar, não se esquecendo dos detalhes como sobrancelhas, cabelos, dedos, o chão; para os adultos, serve para exercitarem a imaginação, a fantasia, de pensar em coisas tidas como impossíveis (como, por exemplo, o João sair andando do papel). É totalmente ilógico, mas esse exercício, de vez em quando, ajuda a nos manter conectados com planos de ideias superiores, mais elevados, exercitando a criatividade. Afinal, a gente não pode acreditar que só por que não conseguimos ver ou perceber algo, esse algo não existe. É como imaginar um círculo quadrado: parece impossível, mas só por que não conseguimos imaginá-lo não quer dizer que não exista. Apenas nossa mente ainda não tem cognição suficiente para conceber tal situação. Mas esse assunto é para outra história: A História Que Não Aconteceu Bem Assim, que já está escrita, só faltando as ilustrações. COMPRAR

Um Gato de Cara Quadrada

Por Wilson Pailo

Certa vez fui à casa de um amigo e havia um gato branco que me chamou a atenção por ter um corpinho compacto e um focinho bem curto, fazendo com que tivesse uma cara “quadrada”. Não sei de que raça era, mas isso serviu de inspiração para escrever a história. Porém, nesse livro o principal não é o gato em si ou fato do personagem ser muito afoito e estar sempre trombando nas coisas, mas, sim, a métrica das rimas. Rimas e matemática tem tudo a ver com arranjos e combinações, uma vez que, de um universo grande de palavras que formam um idioma, extraímos aquelas que devem expressar uma ideia ou sentimento com “precisão poética”. Com isso, geramos uma musicalidade especial ao ler o texto. No caso dessa história, a palavra “quadrada”, além de descrever a cara do gato, dá a musicalidade “quadrada” ao texto, fazendo com que a leitura seja feita aos “soquinhos”, como se estivéssemos descendo por uma escada. Colocamos, abaixo, o áudio de parte do texto para que o leitor tenha uma ideia mais precisa:

O Caramujo Que Não Era Bom Em Nada

Por Wilson Pailo

Caramujo

Escrito em 2017, após levantar-me pela manhã, eu estava indo para a cozinha quando a palavra “caramujo” surgiu em minha mente. A partir daí, sentei-me e escrevi a história. O esboço do Caramujo demorou pra sair: fiz vários ensaios, mas nenhum conseguia expressar o realmente era pra ser o personagem. Precisava ser um caramujo com aspecto frágil, mas, ao mesmo tempo, simpático. O amigo iluminado do caramujo foi decidido mais tarde. Teria que ser alguém que lhe desse uma boa ideia. Pensei primeiramente, em uma “esperança”, um bichinho verde, parente dos gafanhotos e que parece uma folha verde; cheguei a desenhar alguns, mas senti que não era o melhor representante de alguém iluminado. O vaga-lume foi uma consequência lógica, pois o bichinho produz a própria luz e, por que não levar essa luz para alguém? A ideia de fazer o vaga-lume vestido com trajes típicos de Portugal foi uma homenagem a um amigo lusitano, que certa vez, com toda sua simplicidade, falou-me algo muito simples e que resolveu um problema que me preocupava fazia anos. O personagem do vaga-lume da história possui um modo bastante particular de raciocínio, aparentemente ingênuo e, mesmo, tolo, mas que, no final, com toda essa simplicidade, acaba demonstrando muita sabedoria. Às vezes vejo que buscamos soluções complexas para problemas grandes, ou achamos que determinado problema sequer tem solução. Porém, de repente, aparece alguém à primeira vista simplório, ingênuo, mas que com uma pequena e simples frase desfaz todo nosso drama, sugerindo uma simples solução.

Vaga-lume

A história fala de superação, de usar um problema como motivação para construir algo novo e/ou melhor. Fala sobre o bem oculto em todo mal, ou seja, algo que a princípio é ruim (no caso, as diversas limitações que o Caramujo tinha para fazer o que queria), mas que acaba sendo uma mola propulsora para o desenvolvimento e evolução. Fala, também, sobre o bulling, que, na maioria das vezes, é feito por pessoas frustradas consigo mesmas e que procuram se sentir melhor colocando os demais para baixo. No caso do Caramujo, ele consegue transformar os bulliers em admiradores dando a eles o que eles gostariam de ter ou ser. A história fala, ainda, de altruísmo, quando o Caramujo passa a usar sua invenção para auxiliar pessoas com dificuldade de movimentos, e não apenas para satisfazer suas próprias necessidades; fala, também, de responsabilidade com a sustentabilidade, quando o Caramujo inventa uma embalagem biodegradável para a “raspadinha”, preocupando-se com as consequências adversas que sua invenção poderia trazer e investindo em uma solução para esse problema (no caso, embalagens que se transformam em fertilizante), lembrando, assim, da necessidade de termos uma abordagem holística e responsável sobre nossas atitudes e invenções. Fala, ainda, de criatividade, de acreditar em si mesmo, no despertar de talentos que cada um possui, e da necessidade do esforço e determinação para se chegar a um resultado (como dizia Thomas Edson, o sucesso dele era resultado de 1% inspiração e 99% transpiração!). Com relação às ilustrações, a história começa com um cenário com grama verde e céu azul e passa para um cenário cinza e triste, representando o aspecto emocional de nosso herói após tantas decepções e desincentivo. Porém, no final, ao descobrir sua vocação, um sol irradiante se abre para ele. De modo algum a história sugere que todo mundo deve superar seus limites a qualquer custo, mas, sim, a partir de um problema próprio ou de outrem, buscarmos soluções para a construção de um mundo melhor para todos. COMPRAR

A Arara Azul

Por Wilson Pailo

Essa história começou a ser escrita em 19 de fevereiro de 2019 e foi concluída cerca de vinte dias depois. Não houve propriamente uma inspiração sobre a história em si, mas um bizarro ponto de partida. Esse ponto de partida surgiu certo dia, quando eu desci pelo elevador até o térreo e ao abrir a porta dei de cara com um vizinho chato que mora no mesmo prédio. E, aí, veio-me a frase “E logo de cara com quem se depara?”. Pensei que isso poderia ser um refrão a ser usado em uma história. Passei, então, a pensar em coisas que rimavam com cara e depara. A primeira palavra foi “arara”. Mais tarde, comecei a escrever a história: um menino, em busca de aventuras, que entrou em uma mata e se deparou com a arara; a arara voou e ele a seguiu; seguiu até aonde? Um rio. Para rimar com rio… Anil. Então a arara era azul anil. Depois o rio era largo, profundo e manso (já pensando que o rio faria uma alusão à Consciência Universal). O ganso rimaria com manso, porém, já se delineava, aí, um significado: um ganso pairando na água de um rio sereno, com a superfície de espelho; mas, surgiram perguntas: por que um ganso? Essa não é uma ave que se encontra normalmente em uma floresta! Qual o sentido disso? Outra coisa importante: e daí? Depois disso, o que aconteceria? Onde a história iria chegar? E mais um “problema”: o cuidado de não instigar as crianças, e adultos também, a adentrarem na mata sem ter conhecimento e experiência! Enfim, a história precisava de um sentido e não poderia incitar os leitores a correrem riscos. Então, a “inspiração” teve que ser buscada. Foi como criar algo do zero, sem nenhuma pista, construindo um texto verso a verso, como se entra em uma mata fechada e não se consegue enxergar o sol ou mais além de alguns metros, impossibilitando ter noção de onde estamos indo. Quando já havia escrito uma boa parte, mais ou menos o meio da história, veio a ideia de um menino sonhando. E nesse sonho ele caminhava por um estreito caminho (baseado em um poema escrito anteriormente por mim, intitulado Passo a Passo), em um estranho lugar. Sendo um sonho, não incitaria explicitamente alguém a entrar em uma mata. Por ser um estreito caminho e um estranho lugar, veio-me a ideia dos portais e seus significados (baseado em um outro poema de minha autoria, intitulado  Doce Naufrágio). Aos poucos a história foi tomado um rumo, foi tomando sentido: um sonho, uma mudança de consciência… Faltava a conclusão: havia uma arara, um ganso, um jabuti; em cada situação ele aprendia ou despertava sua consciência sobre alguma coisa. Mas, e o desfecho? Pensei em muitas possibilidades, em falar sobre não termos o direito de desperdiçar nada, pois tudo custa o sacrifício de recursos; e/ou, a necessidade de nos conectarmos com a Consciência Cósmica; lei de ação-reação; o retorno à Mãe Natureza; etc., etc. Havia muitas alternativas, mas nenhuma ia ao âmago da questão. Lembrei-me da cena do poeta no filme “Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas”, de Tim Burton, 2003, onde em uma determinada cidadezinha havia um poeta que há doze anos estava tentando concluir a estrofe “Rosas são vermelhas; violetas são azuis…” E não saía disso. Depois de uma semana me sentindo como o tal poeta, finalmente cheguei ao desfecho. 

O lado místico da história foi sendo identificado depois. Eu já havia ouvido falar em Hermetismo, mas nunca havia lido a respeito. Depois da história pronta, fui identificando os elementos que faziam referência aos Sete Princípios Herméticos. Descobri, também, o significado oculto da arara, do jabuti e da serpente e toda a simbologia que havia. Enfim, foi uma história que teve que ser “escavada”, “garimpada”, extraída de uma pedra bruta que teve que ser quebrada (minha própria mente), removendo-se uma montanha de pedras até encontrar um sentido para ela. Mas acho que, no final desse processo todo, quem acabou se encontrando, mesmo, fui eu. COMPRAR

Ahá, Enganamos Vocês! Bichos Que Parecem, Mas não São!

Entre 2012 e 2016, após retornar os EUA, morei em uma cidadezinha chamada Barra do Turvo, localizada no Vale do Ribeira, estado de São Paulo. A cidade tem ao redor de 7.800 habitantes e sua economia baseia-se a agricultura de subsistência. Mas, sua verdadeira riqueza está em suas montanhas, suas nascentes de águas cristalinas, seu ar puro e povo hospitaleiro. Como eu fui parar lá? Bem, a história começa quando eu tinha quinze anos e ouvi falar sobre “A Caverna do Diabo”, localizada em Iporanga, SP. Pensei em ir até lá de bicicleta e, olhando em um mapa, vi que o caminho mais curto passava por Barra do Turvo. A viajem nunca aconteceu, mas, por alguma razão, o nome “Barra do Turvo” ficou gravado em minha memória. Quase trinta anos se passaram e, depois de muitas andanças e experiências profissionais em diversas áreas, resolvi, como Engenheiro Agrônomo, atuar em algo que deveria ter feito desde que me formei: Agroecologia. Fiquei sabendo de uma cooperativa de agricultores que produziam seus alimentos no sistema chamado Agrofloresta e, adivinhem onde ficava a cooperativa? Isso mesmo, Barra do Turvo. Lá na Barra conheci o Pedro e a Maria, proprietários do “Centro de Envolvimento Agroflorestal Felipe Moreira” e, depois de algumas visitas e troca de ideias, resolvi mudar-me para lá. Entre outros afazeres, fui dar aulas na Escola Estadual Professor Luiz Darly Gomes de Araújo, nas matérias de biologia, química, física, geografia, inglês e, também, filosofia! Lembro-me que nos primeiros dias os estudantes me olhavam com estranheza, até que fui dar aula em uma turma de primeiro ano do ensino médio. Apresentei-me como o novo professor de física e comecei a falar sobre “Movimento Retilíneo Uniforme – MRV”.  Após uns quinze minutos falando, uma menina levantou a mão e perguntou: “— Professor, é verdade que o senhor morou nos Estados Unidos?”. Ao responder que sim, ela prosseguiu: “— E o que é que o senhor veio fazer nesse buraco de fim de mundo chamado Barra do Turvo?”. E, então, respondi: “— Vou dizer uma coisa para vocês: já morei em várias partes do Brasil e, durante dez anos, na Califórnia, Estados Unidos, um estado que, sozinho, é considerado a quinta economia do mundo! Lá eu morei em várias cidades do vale central, mas em nenhuma delas eu podia usar a água da torneira para beber ou, mesmo, para cozinhar, porque a água era contaminada por vários resíduos químicos, como gasolina, agrotóxicos e, até, urina de vaca! Nas escolas havia um mastro onde era hasteada uma bandeira que podia ser verde, amarela ou vermelha. Quando a bandeira estava vermelha, queria dizer que a qualidade do ar estava péssima e que, por isso, as crianças iriam ficar o dia inteiro dentro da sala de aula, sem sair para o recreio! Eu tinha uma casa de dois andares, com ar condicionado central, calefação, dois carros na garagem e uma série de facilidades que são consideradas “qualidade de vida”. Por circunstâncias da vida, tive que deixar tudo para trás e voltei para o Brasil. Mas, isso tudo me fez pensar sobre o que realmente é fundamental para vivermos? E a resposta é: primeiro, alguma coisa ou alguém que nos dá a vida, a qual chamamos de Deus; segundo, o ar, pois a gente consegue ficar sem oxigênio por três a quatro minutos, mas, a partir daí, nosso cérebro começa a se degenerar; terceiro, a água, pois podemos ficar sem tomar água por até cinco dias, mas, depois, nosso corpo começa a entrar em colapso; e, finalmente, alimentos, pois, a menos que consigamos viver de energia solar, podemos ficar até trinta dias sem comer, só que, depois disso, começamos a definhar. Vejam o que fazemos com
nosso planeta! Para termos essa tal “qualidade de vida” poluímos o ar, a água e os alimentos, coisas que são realmente fundamentais para nossa vida, em troca de “conforto e comodidades”. Será que isso vale a pena? Olhem ao redor de vocês! Barra do Turvo é repleta de ar puro, fontes de água em abundância e vocês ainda produzem muitos alimentos sem veneno! Isso é uma riqueza incalculável que eu não encontrei em nenhum dos lugares onde eu já vivi. Por isso, jamais chamem Barra do Turvo de buraco, de fim de mundo, pois vocês não sabem a riqueza que isso aqui representa! 
Na classe fez-se um silêncio profundo até o final da aula. Lecionei por nove meses, até o término do ano letivo. Infelizmente, não consegui aulas para o ano seguinte, indo, então, trabalhar como agrônomo para a prefeitura. Um dia encontrei um ex-aluno e ele me perguntou se eu não iria mais dar aulas. Eu respondi que não, porque, entre outros fatores, o pessoal fazia muita bagunça na sala e não prestava
atenção. Mas, então, o que ele me disse fez valer todos os problemas que enfrentei como professor de uma escola pública: “— É, professor, a gente “zoava” muito nas suas aulas, mas aquilo que o senhor falou sobre o ar, a água e Barra do Turvo fez a gente pensar e o pessoal, depois da aula, ficou falando sobre isso”. 
Mas, o que esse livro tem a ver com tudo isso? Bem, graças às matas, à diversidade biológica da mata atlântica local e das agroflorestas, sses pequenos seres, insetos, sapinhos e aves, ainda podem ser encontrados. 

Cada vez que eu encontrava um deles eu os fotografava, até que, um dia, veio-me a ideia de fazer o livro. Dentre eles, destaco o Surucuá, uma ave que tem um canto que se assemelha ao latido de um cachorrinho, só que ela tem a capacidade de alterar o timbre do canto, fazendo com que pensemos que ela está perto, quando está longe, e vice-versa. O primeiro bichinho a ser fotografado foi a “mariposa bicho-papão”, a qual tem um pintura nas asas que formam o rosto de um bicho em 3D. A cada dia surgia um bicho diferente. O Urutau (também chamado de mãe-da-lua) possui um canto sinistro-melancólico e permanece imóvel por horas, realmente parecendo um pedaço de pau. Enfim, toda essa riqueza estava lá graças ao trabalho de preservação dos agricultores agroflorestais e às pessoas que se conscientizaram da importância que a mata tem, aos quais dedico esta obra. COMPRAR 

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